segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Entrevista com Cristian Verardi...


Cristian e Mojica (Zé do Caixão)

Olá amigos ligados “Na Mira” estou eu (Mr. Rock) aqui, dessa vez num bate-papo com Cristian Verardi, um dos curadores do Fantaspoa: Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre que tem crescido mais e mais a cada ano, mostrando muitas curiosidades do mundo da ficção científica, fantasia e horror.


Mr. Rock: Como foi a sua primeira experiência com o cinema fantástico e ao mesmo tempo te pergunto qual foi sua maior inspiração nesse meio?

Meu primeiro contato com o gênero ocorreu muito cedo, na infância. Antes mesmo de aprender a ler eu folheava escondido de meu pai as Hqs de horror que ele comprava. Revistas como Spektro, Kripta e Calafrio fizeram parte da minha infância, assim como os filmes da produtora inglesa Hammer, com seus vampiros, múmias e lobisomens. Recentemente encontrei uma fita K7 que eu gravei quando tinha uns 6 ou 7 anos de idade, onde narro historinhas com monstros e coisas do gênero, então este universo sempre me pareceu perfeitamente normal. E como agravante, cresci freqüentando o Cine Marabá, um cinema que pertencia a um amigo da família. Ainda criança assisti neste cinema verdadeiras pérolas do horror, como Zombi 2 e Holocausto Canibal, que certamente marcaram profundamente o meu gosto pelo bizarro e pelo inusitado. Portanto meu interesse pelo cinema fantástico foi algo natural, e tornou-se gradualmente um elemento passional. Porém, só me envolvi de maneira efetiva com a realização de audiovisuais depois dos 20 anos. O primeiro vídeo que fiz é uma bobagem, que eu adoro mesmo assim, chamada Soul Crusher II-O Retorno do Homem-Coisa, e é uma aula de “como não se deve fazer” um filme. Eu morro de rir toda vez que revejo.
Quanto as minhas inspirações, apesar de ter preferência por alguns realizadores, acho que não existe nenhuma marca visível destas influências em meus trabalhos, na verdade o que me inspira no cinema fantástico não é nenhum cineasta em particular, mas a possibilidade de lidar de uma forma saudável com o sentimento do medo, com o insólito, com o inexplicável. Através do cinema de horror é possível o espectador vivenciar o efeito catártico do medo, experimentar sensações reprimidas e situações limites sabendo que está protegido, que o perigo se encontra do outro lado da tela, na ficção. Lidar com o medo, a violência e a morte é, por mais estranho que pareça, uma forma de se sentir vivo.

Mr. Rock: Como foi a sua trajetória dentro do Fantaspoa, e como está sendo a do festival?

Eu participo do Fantaspoa desde sua primeira edição em 2005. Inicialmente fui convidado para ser debatedor em algumas sessões especiais, na época eu vinha da redação de uma revista especializada em horror e ficção chamada Cine Monstro Horror Magazine. Em 2008 assumi a função de curador. O festival cresceu muito nas últimas edições, ficando conhecido fora do país, principalmente na Europa. Hoje é um dos festivais de cinema fantástico mais importantes da América Latina, exibindo um panorama interessantíssimo da atual produção do gênero ao redor do mundo. Este ano recebemos mais de 800 inscrições de todas as partes do planeta, e exibimos mais de 200 produções. O público girou em torno de 5.000 expectadores. O filme vencedor desta edição foi Zibahkhana – Estrada para o Inferno, do Paquistão, um país sem tradição no cinema de horror. E acho que esta é a principal função de um festival, revelar para o público obras que fujam do lugar comum, e que jamais seriam vistas pelos meios normais de distribuição.

Mr. Rock: Hoje em dia quem você considera o “mestre do horror” no cinema mundial?

Hoje não há um cineasta específico, mas uma leva de diretores com estilos e propostas diferentes que engrandecem o gênero. Gosto muito dos cineastas orientais como Takashi Miike (Audition), Chan-wook Park (I'm a Cyborg, But That's OK) e Joon-ho Bong (O Hospedeiro). Takashi Miike é o exemplo de diretor que não impõe freios aos seus delírios, mesmo que essa falta de limites às vezes o faça pecar pelo excesso. A nova geração do horror francês rendeu frutos bem interessantes. Gosto do trabalho de direção do Alexandre Aja (Alta Tensão e Viagem Maldita), apesar de que após ter se transferido para o cinema americano ele parece ter sido enjaulado no esquema dos grandes estúdios, mas estou bem curioso para ver a sua refilmagem de “Piranha”. Ainda nos franceses, estou ansioso para ver o próximo filme do Pascal Laugier, que cometeu um dos melhores filmes de 2008, Martyrs; só espero que ele não seja uma promessa vazia. Dos mestres consagrados, acho que John Carpenter foi um que nunca frustrou minhas expectativas, em 2010 ele lançará “L.A. Gothic”. Achei, por exemplo, os últimos filmes de Dario Argento e George Romero grandes decepções.

Mr. Rock: José Mojica Marins, o popular “Zé do Caixão”, foi o precursor do gênero cinema terror no Brasil, mesmo com poucos recursos ele nunca desistiu e conseguiu um “lugar ao sol”...No seu ponto de vista, a que se deve tanta perseverança?

Apesar de hoje soar um tanto clichê falar isso, é impossível comentar de cinema de horror no Brasil sem tocar no nome de José Mojica Marins. O Zé do Caixão ainda é a nossa maior referência no gênero, e com o lançamento de “A Encarnação do Demônio” espero que o mito sobreviva para novas gerações. “A Meia Noite Levarei Sua Alma” realizado em 1964 é imprescindível para se compreender a essência do que é fazer cinema de horror no terceiro mundo. “A Encarnação do Demônio” é um filme fascinante, mesmo que irregular. Lançamos o filme no Fantaspoa, na edição do ano passado, e ao fim da sessão eu estava em lágrimas, talvez pela emoção de estar ao lado dele e do roteirista Dennison Ramalho, e saber de toda a trajetória para o filme chegar às telas. Mas toda a platéia ficou comovida, afinal, foi uma luta de mais de 30 anos para produzi-lo. O Mojica costuma dizer que “sua religião é o cinema”, e creio que essa fé, essa paixão cega pelo cinema é a sua fonte de perseverança. É algo quase irracional, difícil de explicar para quem não é cinéfilo.

Mr. Rock: Como está a cena do cinema independente na sua visão, em especial aqui no sul do Brasil?

Existe uma cena de horror independente que produz com regularidade faz algum tempo, o que ela precisa é amadurecer, e que o grande público perceba que o cinema independe da película. Com o advento do formato digital, acho que a tendência é cena se fortalecer, se profissionalizar, adquirir infra-estrutura. O problema é conseguir sair do underground e ter a aprovação do grande público. Porém, para não fazer concessões comerciais muitos preferem manter-se no underground, produzindo para uma pequena, mas fiel platéia. O Petter Baiestorf já se tornou um mito, produzindo desde o começo dos anos 90. É um diretor com personalidade e estilo bem peculiares. As pessoas podem amar ou odiar a obra dele, mas não podem ignorá-la...Em São Paulo existe uma cena forte com realizadores que, literalmente, dão o sangue pelo gênero, como os diretores André ZP, Fernando Rick e André Kapel, que juntaram seus curtas e lançaram de forma independente o dvd “3 Cortes”. São filmes bem produzidos, com muita violência, tensão e efeitos de primeira. André Moraes é outro paulista que está desenvolvendo dois projetos que pelos teasers parecem ter um grande apuro técnico, “E.V.I.L” e “Charles Manson”. Do Espírito Santo tem o Rodrigo Aragão, um diretor super talentoso e apaixonado pelo gênero que é a minha aposta como um dos caras que irá, junto com o Dennison Ramalho, definir o futuro do horror no cinema brasileiro. Quem assistiu ao seu longa de estréia, “Mangue Negro”, sabe do que estou falando. Aqui no Rio Grande do Sul tem uma nova leva de jovens diretores, como o Lucas Moreira que produziu o “Massacre Cirúrgico” e o “Onde as Coisas Cruéis Vivem”, que apesar da precariedade de recursos parece estar amadurecendo muito rápido como realizador. Com tantos nomes envolvidos com o gênero no país, por mais niilista que eu seja, não posso deixar de visualizar a possibilidade de num futuro próximo existir uma cena nacional estruturada e comercialmente funcional, exclusivamente dedicada ao horror.


Mr. Rock: Cristian muito obrigado pela atenção, e tenha certeza que um dia faremos algum evento relacionado ao cinema fantástico aqui em Fred. West., é claro, com a sua presença, mesmo que seja um “Zombie Walk”...(rs)

Obrigado a você Mr. Rock, pelo espaço. Nas próximas edições estamos estudando a possibilidade de fazer uma mostra itinerante do Fantaspoa pelo interior do estado, quem sabe não aportamos em sua cidade com um belo carregamento de sangue, horror e medo.

Um comentário:

Unknown disse...

Mto massa esse lance alternativo, curto pra caramba!!!! o Cara eh fera!!